"Vida de Aço"
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" VIDA DE AÇO "

 

ngano seu, vida de aço não é assim fria, sólida, rígida e monótona como parece. Vida de aço é cíclica e dinâmica como a própria vida. Ele nasce simples, das entranhas das montanhas, das minas, mas não se acomoda com as imperfeições; procura ser melhor a cada dia até alcançar pureza e nobreza. Às vezes com uma personalidade mais dura, às vezes mais flexível. Se transforma em chapa, tarugo, tubo, cantoneira. Muitos se estancam numa prateleira e outro grande grupo se curva, se molda, se adapta; passa o tempo, vira prédio, carro, mesa, jato, serra. Se funde a outros pares em engrenagens ou numa estrutura qualquer, ou vive sozinho como viga de uma ponte abandonada. Sem abrir mão da humildade, pode igualmente estar lá num bule em um simples casebre ou nos finos talheres de uma grande mansão; pode virar trilhos e guiar trens, ou dutos e conduzir energia. Enterra-se no calor de desertos e mergulha nas profundezas de mares; supre gentes, une povos, agiganta nações.

ngano seu, vida de aço não é previamente definida, predestinada. Vida de aço é surpreendente e imprevisível como a própria vida. Vida de aço é cheia de calor, de grandiosidade e também apertos e abrasões. Vida de aço tem auges e poços, fases de euforia intensa e fases de quase insuportável solidão. Ora ele se derrete todo, ora sente as dores dos cortes; num momento solta até faíscas como festejando toda a sua força em plena atividade, noutro se recolhe num canto qualquer, imóvel pelo abandono de quando a fadiga se instaura. Ora agüenta firme dobras e incisões, ora não suporta e se abre em fendas; vezes segue sóbrio seu caminho plano, reto e preciso; vezes anda por trilhas de linhas curvas e inusitadas.

ngano seu, vida de aço não é inerte, entorpecida. Vida de aço é intensa e exuberante como a própria vida. Ele trabalha duro, até lapida, ajusta e prepara outros seus iguais; segue sua jornada sempre pegando pesado e suportando firme todas as barras. Depois de tudo, quando se desgasta, ao invés de descansar, a maioria vai se renovar, começar o ciclo de novo, voltando ao forno ardendo de curiosidade pra saber como e o quê será desta vez. Mas alguns outros, nesse momento, resolvem terminantemente encerrar carreira; se agrupam, se empilham e, como aqueles que desde o nascimento estiveram guardados intactos e inativos, aguardam pacientemente até que aquele dia chegue quando finalmente se entregam a um maluco qualquer e acabam assim, se eternizando ali, na arte.

Rigo.        2006

Clique na imagem e assista o vídeo com a crônica narrada pelo Rigo.

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** Todos os direitos reservados a RIGO **


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